Dom Alberto Taveira Corrêa
ARCEBISPO METROPOLITANO DE BELÉM DO PARÁ
"Pai, chegou a hora. Glorifica teu filho, para que Teu Filho te glorifique, assim como deste a ele poder sobre todos, a fim de que dê vida eterna a todos os que lhe deste. Esta é a vida eterna: que conheçam a ti, o Deus único e verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que enviaste" (jo 17, 1-3).
"Qual é o teu nome? - Moisés! O que pedes à igreja de Deus? - a fé! E esta fé, o que te dará? - A vida eterna!" Assim começou a celebração eucarística em que um jovem estudante de vinte e um anos recebeu o batismo, a crisma e a primeira eucaristia. São os sacramentos da iniciação cristã. Na mesma ocasião, seu irmão Henrique foi crismado. A assembleia litúrgica era composta de adultos, jovens e uma centena de crianças, que participavam do festival das crianças promovido pela comunidade sementes do verbo em Icoaraci, nesta nossa arquidiocese de Belém. O sorriso e a firmeza com que ouvi essas respostas iniciais do rito que presidi com alegria me fizeram refletir sobre o nosso contato e o nosso trato com Deus.
O candidato à iniciação cristã ouviu a palavra de Deus e, antes do batismo, renunciou ao pecado, à divisão e ao demônio. Mergulhado na piscina batismal, dali saiu homem novo, foi ungido com o dom do Espírito Santo e admitido pela primeira vez à ceia eucarística. O sorriso continuava resplandecente, como, aliás, posso testemunhar nas muitas semelhantes celebrações a que presidi. Não havia tristeza, constrangimento, receio ou medo de Deus.
Quem pede o batismo não o faz para que alguém controle a sua vida, cerceando seus impulsos em busca de liberdade. Não, querer ser e viver como cristão eleva a alma humana, faz ser melhor e ser mais livres! Não somos, diante de pessoas que tenham outras convicções, homens e mulheres complexados, como se o pensar e o viver mundano fossem melhores. Não há nada mais digno na existência do que fazer a oblação livre da própria liberdade diante de Deus. Vale recordar a palavra de Jesus: "se permanecerdes em minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (jo 8, 31-32).
A escritura reflete o aprendizado de muitas gerações no contato com Deus, superando o medo diante da presença sagrada, que atrai e provoca muitas vezes estupor. Moisés na montanha sagrada iniciou seu caminho de intimidade com Deus. Mas começou tirando as sandálias numa terra santa, deu desculpas quando chamado à missão, enfrentou e superou as próprias inseguranças. Foi testemunha de grandes sinais e prodígios. No final, ficou o relacionamento pessoal: "o Senhor falava com Moisés face a face, como alguém que fala com seu amigo" (ex 33,11). À morte, registra o livro do Deuteronômio: "nunca mais surgiu em Israel profeta semelhante a Moisés, com quem o senhor tratasse face a face, nem quanto aos sinais e prodígios que o Senhor o mandou fazer no Egito, contra o faraó, seus servidores e o país inteiro, nem quanto à mão poderosa e a tantos e tão terríveis prodígios que Moisés fez à vista de todo o Israel" (dt 34, 10-12).
Elias, cujo ministério representa todo o profetismo do antigo testamento, também passou pelo aprendizado do contato com Deus. Vento impetuoso, terremoto, fogo, brisa suave. É diante da brisa leve que ele cobre o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da gruta (cf. i rs 19,9.11-13). Deus não é encontrado na agitação interior ou exterior, mas quer ouvir e ser ouvido!
Os discípulos de Jesus (mt 14, 22-33) escutaram do Senhor palavras consoladoras: "Coragem! Sou eu! Não tenhas medo!" e Pedro, tão parecido conosco, é chamado fraco na fé para se tornar rocha! Aprendeu a viver e deu sua vida por Jesus.
Nossa história é parecida com as aventuras dos heróis da fé. Não nascemos heróis, mas podemos, com a graça de Deus, vencer as sombras interiores que nos apavoram. Não custa acender a luz! E a palavra de Deus é luz para o nosso caminho! E muitas pessoas, ao nosso redor, estão suplicando que sejamos, iluminados por aquele que é luz do mundo, quais luzeiros que transformam em dia claro as sendas que percorrem.
Fonte: Conversa com meu povo
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