No dia 8 de julho de 1980, ressoou em Belém do Pará a voz forte de João Paulo II: "Este momento de alegria e comunhão, nos encontra reunidos em Belém, "casa do Pão", para receber o pão da Palavra de Deus e o Pão eucarístico, Corpo do Senhor. Belém e Nazaré nos falam antes de tudo de Jesus, o Salvador, na sua vida oculta, criança e depois jovem, no cumprimento de sua missão: "Eis que venho, ó Deus, para fazer em tudo a Tua vontade" (Hb 10, 7). Belém e Nazaré nos falam da Mãe de Jesus, sempre próxima ao Filho eterno de Deus, Seu filho segundo a carne, fiel ela também no cumprimento de um papel de primeira importância no plano da Salvação divina: "Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1, 38)".
O local da celebração eucarística era a avenida hoje chamada João Paulo II. Na mesma avenida, será constituída a Paróquia do Beato João Paulo II, numa área de grande desafio missionário. Sabemos que um homem santo, missionário inigualável de nosso tempo, pisou esta terra e deixou aqui sementes vida cristã que frutificaram ao longo dos anos. À nossa geração cabe a responsabilidade de multiplicá-los, trabalhando para que ninguém fique privado do anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo.
Dois diálogos me vieram à memória ao refletir sobre a beatificação de João Paulo II. Uma criança, a quem perguntei o que significa ser santo, respondeu-me candidamente: "Ser santo é assim: na hora de rezar, a gente reza; na hora de estudar, a gente estuda, na hora de brincar, a gente brinca". É verdade! Ser santo é viver bem cada momento presente, sem pressa, com serenidade. João Paulo II ofereceu ao mundo a figura do atleta e do enfermo, do intelectual profundo e do diálogo com todas as camadas da sociedade, a ternura e a firmeza, a oração, o sorriso, a convivência! Tive a alegria de ter sido por ele nomeado bispo e de encontrá-lo muitas vezes. A primeira deles, em Belo Horizonte, dois de julho de 1980, dois braços fortes sobre meus ombros e olhos profundos que enxergavam a alma. "Muito novo", dizia o Papa ao conhecer-me como reitor do Seminário. Onze anos mais tarde, ainda muito novo, fui nomeado por ele bispo, cinco anos depois arcebispo. Nele encontrei a paternidade da confiança e o estímulo à missão. Com ele aprendi a ser humano e simples, sem delongas, quando se trata de viver a vontade de Deus em cada momento presente.
Recentemente perguntei a um jovem se estava forte e santo. Jocosamente respondeu-me sim quanto à fortaleza. Sobre a santidade, disse que faltava "ensaiar o Santo", referindo-se ao canto litúrgico. Realmente a santidade precisa crescer, ser continuamente ensaiada. Não se pode perder qualquer oportunidade para mostrar ao mundo que a santidade é atual!
É de João Paulo II o ensinamento: "Colocar a programação pastoral sob o signo da santidade é uma opção carregada de consequências. Significa exprimir a convicção de que, se o Batismo é um verdadeiro ingresso na santidade de Deus através da inserção em Cristo e da habitação do seu Espírito, seria um contrassenso contentar-se com uma vida medíocre, pautada por uma ética minimalista e uma religiosidade superficial. Perguntar a um catecúmeno: "Queres receber o Batismo?" significa ao mesmo tempo pedir-lhe: "Queres fazer-te santo?" Significa colocar na sua estrada o radicalismo do Sermão da Montanha: "Sede perfeitos, como é perfeito vosso Pai celeste" (Mt 5,48). Como explicou o Concílio, este ideal de perfeição não deve ser objeto de equívoco vendo nele um caminho extraordinário, percorrível apenas por algum "gênio" da santidade. Os caminhos da santidade são variados e apropriados à vocação de cada um. Agradeço ao Senhor por me ter concedido, nestes anos, beatificar e canonizar muitos cristãos, entre os quais numerosos leigos que se santificaram nas condições ordinárias da vida. É hora de propor de novo a todos, com convicção, esta "medida alta" da vida cristã ordinária: toda a vida da comunidade eclesial e das famílias cristãs deve apontar nesta direção. Mas é claro também que os percursos da santidade são pessoais e exigem uma verdadeira e própria pedagogia da santidade, capaz de se adaptar ao ritmo dos indivíduos; deverá integrar as riquezas da proposta lançada a todos com as formas tradicionais de ajuda pessoal e de grupo e as formas mais recentes oferecidas pelas associações e movimentos reconhecidos pela Igreja" (NMI 31).
A santidade que refulgiu em João Paulo II se edificou debaixo dos braços da Cruz, junto com Maria. Em Belém, ele se referiu à Virgem Maria, recordando nossa história e nossas responsabilidades marianas: "Foi sob o patrocínio de Nossa Senhora da Graça que, por obra de intrépidos religiosos, aqui se fundou uma comunidade cristã, depois Diocese, de onde se irradiou, não sem dificuldades, o Evangelho de Cristo para esta parte norte do Brasil. E ela, a Mãe da Graça divina, acompanhava os missionários neste seu empenho e esforço e estava com a Mãe Igreja - da qual é o protótipo, o modelo e a suprema expressão - nos inícios da sua implantação nestas terras abençoadas: abençoadas por Deus Criador, com as riquezas e belezas naturais que nos maravilham; e abençoadas por Cristo Redentor, depois, com os bens da Salvação por Ele operada, e que nós agora aqui celebramos. Nesta Eucaristia, com Maria Santíssima, vamos render preito agradecido ao Pai por Cristo no Espírito Santo: agradecer a evangelização e benefícios divinos por ela trazidos; agradecer a caridade dos missionários e a esperança que os animava e tornava fortes no dilatar a fé, mediante a pregação e o Batismo àqueles que, com a vida nova em Cristo, aumentaram aqui a família dos filhos de Deus".
Santidade feita de gestos simples! Santidade como projeto pessoal e de Igreja! Santidade aos pés da Cruz, em companhia da Santa Virgem Maria, Nossa Senhora da Graça, Nossa Senhora de Nazaré, Nossa Senhora de Belém! Trazendo à memória o porte iningualável de João Paulo II, nossa Igreja de Belém se torne cada vez mais digna de todas as graças recebidas em sua gloriosa história.
Dom Alberto Taveira Corrêa
EmoticonEmoticon