Chuva das duas da tarde. Açaí com farinha e sem açúcar. Tomar tacacá mesmo que o sol esteja a pino. Torcer pelo Clube do Remo, pelo Paysandu ou pela Tuna Luso. Correr para pegar a manga que acaba de cair na calçada. Comprar peixe fresco no Ver-o-Peso. A cidade de Belém tem estas coisas, que só ela tem. Mas não dá para falar na capital do Pará sem lembrar a Catedral da Sé, a Igreja de Santo Alexandre, a Basílica de Nazaré, o mês de outubro quando o rio de gente trasborda pelas ruas em mais um Círio de Nazaré. Os 395 anos de história da cidade de Belém, o qual celebramos hoje, se confundem com a vida da Igreja na Amazônia. Para "contar" a cidade das mangueiras o Jornal Voz de Nazaré apresenta a história da Igreja na cidade que carrega a devoção até no nome, "Santa Maria de Belém do Grão Pará", que se revela no meio da arquitetura cuidadosa dos prédios, nos nomes das ruas e especialmente na lembrança das pessoas.
Caminhar pela Avenida Nazaré já não é mais uma rotina do bancário aposentado Osmar de Souza. Mas aos 95 anos as memórias permanecem vivas e ele lembra com carinho que cada parte da Basílica de Nazaré, à época, "Nazareth", guarda também um pedaço da história de sua vida. "Eu era paroquiano de Nazaré, fui acólito lá durante nove anos, entrei com sete saí com 16 anos. Lá eu recebi o batismo, fiz a primeira eucaristia, crismei e casei". O casamento foi no dia 24 de dezembro de 1940, data repetida por Osmar como se fosse o dia de ontem. Assim como as datas o aposentado lembra os detalhes. "Todos aqueles santos de mármore que tem lá (na Basílica) são da minha época. Aqueles medalhões nos vitrais naquele tempo custavam cinco mil réis e eram doados pelas famílias mais abastadas". E lá se foram 70 anos de casamento ao lado da companheira Balbina de Souza (94), e dos sete filhos, quinze netos e seis bisnetos.
O mesmo tempo que deu a seu Osmar essa grande família, foi moldando e mudando a "cara" e o jeito da cidade de Belém. Agora não se "apanha o bonde" pela Avenida Tito Franco, mas se vai de ônibus, de carro ou de bicicleta pela Avenida Almirante Barroso. Mas algumas marcas, apesar das mudanças, ainda permanecem pelos cantos da cidade e lembram aos que passam por elas, na maioria das vezes indiferentes, que a vida da Igreja de Belém escreve e desenha os traços que construíram (e constroem) a história da cidade.
MARCAS
Uma visita ao bairro da Cidade Velha, antes apenas Cidade, que junto com o bairro da Campina, formava os dois únicos bairros de Belém, mostra hoje um ambiente bem diferente daquele que Francisco Caldeira Castelo Branco avistou em 1616 quando fundou a cidade de Belém. O chamado Complexo Feliz Luzitânia (aliás, o primeiro nome da cidade) não seria o mesmo sem a Igreja Mãe da Arquidiocese de Belém, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Graça, que 104 anos depois da chegada dos primeiros portugueses ao Pará teve sua pedra fundamental erguida. E os paraenses testemunharam com paciência sua construção finalizada apenas 1996. Ao sair da Catedral Metropolitana não é preciso ir muito longe para estar em outro pedaço da história, basta atravessar a rua para estar diante do que lugar que era uma capelinha dos jesuítas em 1653 e hoje é a imponente Igreja de Santo Alexandre.
A vocação religiosa e a possibilidade de expansão foi reconhecida pelo Papa Clemente XI quando ele nomeou por meio da bula Copiosus in Misericordia a Diocese de Belém do Pará no dia 04 de março de 1719. E quase 190 anos depois (em 1906) foi elevada a Arquidiocese por São Pio X em sua bula Sempiternum Humani Generis. Na condição de Arquidiocese foram dez arcebispos (ver quadro abaixo) até o atual Arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa.
A religiosidade impressa na cidade de Belém não se restringe aos centros históricos ou a pontos repletos de turistas com suas inseparáveis máquinas fotográficas ávidos por registrar todos os momentos. A Igreja de Belém está no caminhar pela cidade. Em um passeio pela Rua Dom Romualdo Coelho, bispo diocesano e o primeiro brasileiro assumir um episcopado na região amazônica, o cametaense que fez história ao ser o primeiro bispo genuinamente paraense. Sem falar na Avenida Nazaré, que recebeu este nome por guardar a Basílica de Nazaré que recebe os milhares de promesseiros, devotos da Santa do mesmo nome. E para quem pensa que as marcas da Igreja de Belém foram deixadas apenas no tempo em que a história era contada em preto e branco, se esqueceu da Avenida 1º de Dezembro, que após a visita do Santo Padre a Belém, foi batizada de Avenida João Paulo II, que carrega em sua extensão, as lembranças dos fiéis que cantavam "A Benção João de Deus".
Bispos que já administraram a Igreja em Belém:
1º Dom José Marcondes Homem de Melo - 1906
2º Dom Santino Maria da Silva Coutinho - 1907 - 1923
3º Dom João Irineu Joffily - 1924 - 1931
4º Dom Antônio de Almeida Lustosa - 1932 - 1941
5º Dom Jaime de Barros Câmara - 1942 - 1943
6º Dom Mário de Miranda Vilas-Boas - 1944 - 1956
7º Dom Alberto Gaudêncio Ramos - 1957 - 1990
8º Dom Vicente Joaquim Zico - 1990 - 2004
9º Dom Orani João Tempesta - 2004 - 2009
10º Dom Alberto Taveira Corrêa - 2010- Atual
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