A Igreja celebra, no dia 1º de novembro, a memória de todos os santos e santas, de todos os tempos, idades e culturas, que cultivaram a santidade como ideal de vida. A comunidade cristã conhece o nome de milhares desses santos e santas, cuja memória é celebrada ao longo do Ano Litúrgico, porém há outros que fazem parte “de uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas”. (Ap7,9) Para a Igreja Católica, os santos e santas, de ontem e de hoje, formam essa “multidão imensa”.
Dentre os santos, Santo Estevão é o primeiro mártir da Igreja, na era apostólica; os próprios Apóstolos foram martirizados e a Igreja, ao venerá-los, os propõe como exemplos a serem imitados por sua coragem e fidelidade. São Paulo passa da condição de perseguidor dos cristãos para a de seguidor de Jesus Cristo, após um encontro transformador, no caminho de Damasco, a ponto de ser martirizado, como apóstolo do Senhor. Durante o período da Igreja primitiva, muitos homens e mulheres se santificaram, na forma heróica do martírio ou do testemunho cotidiano.
A santidade é um valor que está ao alcance de todas as pessoas. Deus não exclui nenhuma pessoa da posse desse valor que, na verdade, a torna sua “imagem e semelhança”. Deus assim o diz no Antigo Testamento: “Santificai-vos e sede santos, porque eu sou santo.” (Lv 11,44) Jesus, na Nova Aliança, ensina: “Sede, portanto, perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito.” (Mt 5,48) Todavia, prevaleceu por muito tempo a ideia de ser a santidade um valor que, praticamente, estava ao alcance do universo das pessoas que consagravam sua vida a Deus, na condição de sacerdotes, religiosos e religiosas; basta que se consulte o Calendário Santoral da Igreja para se constatar a razão desse fato. Ao longo dos tempos, a história da Igreja apresenta o rosto da santidade de discípulos e discípulas de Jesus. No entanto, é preciso entender que a santidade não é um valor cultivado apenas por pessoas consagradas que viveram no passado, como Santo Agostinho, São Francisco, Santa Clara, Santa Teresinha e outros.
Ultimamente, a Igreja tem elevado “à honra dos altares” leigos e leigas, de idade, estado de vida e categoria social diferentes, significando, dessa forma, que a santificação está ao alcance de todos. Em 2001, houve a beatificação de um casal italiano: “Luigi Beltrami e Maria Corsini, marido e mulher, foram beatificados (…) por João Paulo II. É o primeiro casal beatificado em toda a história da Igreja. (…) A Igreja apresenta assim, um casal, uma família, como modelo de santidade para o homem contemporâneo. Trata-se de uma família comum que apenas procurou viver da melhor forma o apelo do Evangelho e as exigências de se ser cristão. Na Itália da primeira metade do século XX, Luigi Beltrami e Maria Corsini constituíram um casal que, sem gestos espectaculares, viveu o essencial da fé que soube transmitir aos filhos.” “A santidade, através do testemunho deste casal, tornou-se mais próxima de todos.” Outro exemplo “que se tornou símbolo da luta pró-vida.”: “No dia 16 de maio de 2004, o Papa João Paulo II canonizou, isto é, incluiu no catálogo dos santos, a médica italiana Gianna Beretta Molla (1922-1962), que deu a vida por sua filha, preferindo morrer a praticar um aborto.” No Brasil, em 2007, foi beatificada uma jovem - Albertina Berkenbrock: “Albertina era filha de imigrantes alemães e nasceu em 1919 numa pequena comunidade do sul de Santa Catarina: São Luiz, pertencente ao município de Imaruí. Ela se transformou numa mártir da região quando resistiu a uma tentativa de estupro e foi morta aos 12 anos de idade, em 1931. O autor do crime, que a degolou com uma faca, era um empregado do pai da jovem.” “Nestes tempos de liberação do aborto, da pílula do dia seguinte, da permissividade sexual, pedofilia, turismo sexual e tráfico de adolescentes, a beatificação de uma jovem de 12 anos, virgem e mártir, é um sinal dos tempos.” Em 2008, foram beatificados os pais de Santa Teresinha, Louis e Zélie Martin. “A beatificação do casal é ainda testemunho eloqüente de uma outra realidade: o matrimônio é caminho de santificação. Trazendo para mais perto da glória dos altares os pais de Santa Teresinha – pais de nove filhos -, a Igreja realça a importância fundamental da vida conjugal, da entrega sem reservas dos esposos que forma a família”. “Louis e Zélie viveram os aspectos da vida cotidiana de uma família do século XIX. Enfrentaram as preocupaçoes e incertezas por estarem à frente de uma empresa. Os dois traziam uma preocupação particular em exercer a justiça e o respeito com seus empregados; sem esquecer a ajuda que prestavam aos mais pobres.” Em 2010, foi beatificada a jovem Chiara Badano (1971-1990): – “Chiara pertencia ao Movimento dos focolarinos, fundado na Itália por Chiara Lubich em 1943. Quando adolescente, gostava de cantar, dançar, jogar tênis e patinar. Amava a montanha e o mar e não perdia missa. Um dia, jogando tênis, sentiu dor muito forte que só foi piorando. Feitos os exames médicos, constatou-se o resultado mais temido: osteosarcoma. Chiara foi submetida a uma operação que não teve êxito. Desde então perdeu o movimento das pernas. Nesse tempo, fez uma forte amizade com Chiara Lubich, fundadora do movimento dos focolarinos. Assim transcorreu vários meses de sofrimento.”
Os santos e santas trilharam os caminhos da santificação, em meios aos desafios do seu meio e do seu tempo.
Dom Genival Saraiva
fonte: CNBB
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