O Círio tem vários objetos simbólicos que podem ser apreciados durante o seu trajeto, ou a quadra Nazarena, o qual veremos alguns desses ícones do círio, como as imagens, o manto, a berlinda, a corda, os carros e muito mais, neste post, continuando nossa serie sobre o Círio de Nazaré, a festa da Rainha da Amazônia.
Imagens
Imagem Autêntica - Chamada de imagem “autêntica” ou “imagem do achado”, a escultura de madeira encontrada pelo caboclo Plácido, no ano de 1700, tem 28 cm de altura, cabelos caídos sobre o ombro direito e carrega ao colo o Menino Jesus despido com um globo nas mãos. Aos pés da Virgem, há a cabeça alada de um anjo, que é o símbolo iconográfico da glória celestial.
Imagem Peregrina e Imagem autentica de N. Srª de Nazaré |
Na Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré, a imagem autêntica fica em redoma de cristal no altar-mor, o Glória , entre anjos, nuvens e um belo esplendor de raios. De lá, ela só é retirada uma vez ao ano, numa cerimônia conhecida como a “Descida da Imagem” ou “Descida do Glória”, que ocorre na véspera do Círio, às 13h.
Após a descida do Glória, d urante toda a quinzena da Festa, a imagem fica num nicho instalado no presbitério, portanto mais perto dos devotos.
Desde que foi encontrada, a imagem autêntica já foi restaurada três vezes. Ela é coberta por um manto canônico, trabalhado com fios e enfeites de ouro.
Imagem Peregrina - A partir de 1969, por motivos de segurança, a imagem autêntica que era levada nas procissões do Círio foi substituída por outra, que é uma cópia alterada da imagem encontrada por Plácido. É chamada de “imagem peregrina” porque sai em todas as procissões e cerimônias oficiais da festa Nazarena . Durante o ano, ela fica na sacristia da Basílica Santuário.
Esta imagem foi encomendada ao escultor italiano Giacomo Mussner, mas não reproduz os mesmos traços da imagem “autêntica”. A imagem peregrina ganhou alguns traços da mulher da Amazônia e o seu menino recebeu características indígenas e caboclas. Em 2002, sofreu o primeiro restauro por meio de uma técnica empregada pelo Iphan - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
A Berlinda Hoje - A berlinda que carrega a imagem da Virgem de Nazaré na procissão do Círio já é a quinta da história. Confeccionada em 1964 pelo escultor João Pinto, ela tem estilo barroco e é esculpida em cedro vermelho. Na parte interna possui cetim drapeado no teto e pingentes de cristal. Ao centro tem um dispositivo próprio para fixação da Imagem. Ornamentada com flores naturais na véspera do Círio, a Berlinda é colocada sobre um carro com pneus, que na procissão é puxado pela corda conduzida pelos devotos.
Mantos
Segundo a lenda do achado da Imagem da Virgem de Nazaré, ela já estava com um manto no momento em que foi encontrada pelo caboclo Plácido. A tradição foi mantida e, ao longo dos anos, ela foi ganhando
Manto de 2009 |
vários outros. Em 1953, a imagem autêntica recebeu um manto bordado a ouro e pedras preciosas, durante o 6º Congresso Eucarístico Nacional, realizado em Belém, ocasião em que recebeu a Coroa Pontifícia.
A confecção dos primeiros mantos é atribuída à irmã Alexandra, da Congregação das Filhas de Sant'Ana, do Colégio Gentil Bittencourt. Ela confeccionava o manto e o promesseiro doava o material. Foi assim até sua morte, em 1973. Depois disso, quem assumiu a missão foi a ex-aluna e ajudante, Esther Paes França. Até 1992, ela já tinha feito 19 mantos. Daí em diante, vários católicos passaram a confeccionar o manto. Estilistas famosos também têm desenhado e confeccionado os mantos anualmente.
Uma informação curiosa é que, até o ano de 1998, a doação do manto era guardada em sigilo e sempre fruto de promessas feitas a Nossa Senhora de Nazaré. Depois disso, estilistas famosos também passaram a confeccionar os mantos anualmente.
Berlinda
História da Berlinda - A berlinda começou a fazer parte do Círio a partir de 1855, em substituição a uma espécie de carruagem puxada por cavalos ou bois, chamada de palanquim. Neste mesmo ano, com a necessidade da Berlinda ser puxada pelos fiéis para vencer um atoleiro, os animais foram substituídos por uma corda, que foi emprestada às pressas por um comerciante e que, depois, foi incorporada à tradição do Círio. Mesmo com a introdução da berlinda, foi mantido o costume da imagem ser carregada no colo de autoridades da Igreja. Mas, em 1880, o Bispo Dom Macedo Costa mandou fazer uma berlinda que levasse a imagem sozinha. Em 1926, a berlinda foi transformada em andor e assim saiu até o Círio de 1930. No ano seguinte, ela voltou ao seu formato original, sendo puxada pelos fiéis através da corda.
Corda
A Corda Hoje - A corda puxada pelos promesseiros é um dos maiores ícones da grande procissão do Círio e, também, da Trasladação. Hoje, ela tem 400 metros de comprimento, duas polegadas de diâmetro e é produzida em titan torcido de sisal oleado.
Enfileirados, homens e mulheres puxam a corda que faz a berlinda com a imagem da Santa se movimentar. Anteriormente amarrada à berlinda, a partir de 1999 ela passou a ser atrelada através de uma argola metálica. O atrelamento ocorre no Boulervard Castilhos França, 400 metros depois do início da procissão.
Como são os promesseiros da corda que dão ritmo à procissão, em alguns anos ela precisou ser desatrelada antes do término da romaria para que o Círio pudesse seguir mais rapidamente.
Até 2003, o formato da corda era de “U”, ou seja, as duas extremidades da corda eram atreladas à berlinda. A partir de 2004, por motivos de segurança, ganhou formato linear, seccionada por peças de duralumínio, o que deu origem às chamadas estações da corda.
História da Corda - Durante a procissão de 1855, quando a berlinda ficou atolada por conta de uma grande chuva, a Diretoria da Festa teve a idéia de arranjar uma grande corda, emprestada às pressas de um comerciante, para que os fiéis puxassem a berlinda. A partir daí, os organizadores do Círio começaram a se prevenir, levando sempre uma corda durante a romaria. Mas só no ano de 1885, a corda foi oficializada no Círio, substituindo definitivamente os animais que puxavam a berlinda.
No Círio de 1926, o arcebispo Dom Irineu Jofilly suprimiu a corda do Círio, já que “não compreendia o comportamento na corda, onde homens e mulheres se empurravam em atitudes nada devotas”. A proibição gerou várias manifestações populares e políticas, mas chegou a durar cinco anos. Só em 1931, com intervenção pessoal de Magalhães Barata, então governador do Estado, a corda voltou a fazer parte do Círio.
Carros
Além da berlinda, outros treze carros acompanham a procissão do Círio. Eles são um símbolo importante da devoção mariana, onde os romeiros depositam objetos de promessa que carregam durante a procissão
Um desses carros – o dos Milagres – se refere ao milagre que teria ocorrido no ano de 1182, quando o fidalgo português Dom Fuas Roupinho, prestes a despencar num abismo com seu cavalo, recorreu a Nossa Senhora de Nazaré.
Há, também, o Carro do Caboclo Plácido, o Barco dos Escoteiros, a Barca Nova, Carro do Anjo Custódio, Barca com Velas, Carro do Anjo Protetor da Cidade, a Barca Portuguesa, o Carro dos Anjos I, Barca com Remos, Carro dos Anjos, o Carro da Santíssima Trindade e o Cesto das Promessas.
Cartazes
A cada ano, os cartazes do Círio são produzidos para distribuição à população, que tem por hábito afixar nas portas de suas casas, como uma homenagem daquele lar à padroeira. Algumas imagens de cartazes são apresentadas na Galeria.
Hinos e Orações
“Vós Sois o Lírio Mimoso” é considerado o hino oficial do Círio de Nazaré. Composto em 1909 pelo poeta maranhense Euclides Farias, posteriormente, foi acrescido de um estribilho – escrito pelo advogado Aldebaro Klautau - que cita o nome da Senhora de Nazaré.
O hino "Virgem de Nazaré" é, originalmente, um poema de autoria da poetisa paraense Ermelinda de Almeida, que por volta dos anos 60 foi musicado pelo Pe. Vitalino Vari.
"Maria de Nazaré" tem letra e música do sacerdote mineiro Pe. José Fernandes de Oliveira (Pe. Zezinho) e foi composto em 1975.
"Nossa Senhora da Berlinda", tem letra e música do Pe. Antônio Maria Borges e foi composto em 1987.
Promesseiros
Eles são uma das imagens mais emocionantes da Festa da Rainha da Amazônia. Além dos que vivem em Belém, chegam promesseiros do interior do Pará, de outros Estados e até de outros países. Todos reunidos pela fé, agradecendo graças alcançadas.
Muitos seguem descalços a romaria. Outros vestem seus filhos de anjos, puxam a corda, distribuem água, carregam objetos de cera que representam curas alcançadas. Também é comum ver os fiéis carregando pequenas casas na cabeça e cruzes de madeira. O sacrifício às vezes supera os limites da dor e alguns fiéis seguem de joelhos toda a procissão.
Museu - Os objetos carregados pelos fiéis são selecionados e parte deles vai para o Museu do Círio, que funcionou na cripta da Basílica Santuário até o ano de 2002, sendo transferido para o complexo Feliz Lusitânia em 2003. Outra parte dos objetos vai para a Estação dos Carros, uma espécie de depósito/museu com mais de 800 metros quadrados, que fica na área do Arraial de Nazaré, onde, durante todo o ano, ficam guardados a berlinda e os carros levados na grande procissão.
Os objetos de cera danificados durante a procissão são derretidos e a cera é comercializada.
1 comentários:
Write comentáriosMuito interessantes seus textos sobre o Círio.
ReplyEstá bom de montar um livro... rsrsrsrsrs
Nos vemos por lá, se forem acompanhar.
Parabéns! Grande abraço.
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