O jovem arcebispo de Belém, dom Alberto Taveira Corrêa, 59 anos, que acaba de ser nomeado pelo papa Bento 16 para substituir dom Orani João Tempesta, demonstra disposição para encarar os desafios que o aguardam na capital paraense. Ele confessa estar “muito satisfeito” em encarar a nova missão e anuncia que virá para Belém, no próximo dia 25 de março, com o “coração muito aberto para conhecer e querer bem as pessoas”.
Em entrevista exclusiva ao Diário, por telefone, dom Alberto, ainda arcebispo de Palmas (TO), promete realizar tudo o que estiver ao seu alcance para honrar “uma história de quase 400 anos da Igreja Católica no Pará”. Ele só esteve em Belém uma vez, quando dom Vicente Zico era o arcebispo. Veio pregar o retiro do clero.
Pretende fazer uma viagem a Belém antes da posse, mas a data ainda não foi definida.
Dom Alberto fala na entrevista que pretende primeiro conhecer os padres, bispos e as pastorais da arquidiocese, para só depois elaborar suas metas de trabalho. Embora o Tocantins faça parte da Amazônia Legal, ele entende que a realidade do Pará é “complexa e diferente”, com seus desafios que pretende encarar. Ele também aborda temas como violência, criminalidade, aborto, pedofilia e meio ambiente. Por fim, manda sua mensagem para todos os católicos paraenses.
P: Como o senhor recebeu a indicação do papa Bento 16 para comandar a Arquidiocese de Belém?
R-Recebi com muita satisfação. De um lado, é um apego muito grande, porque faz quase 14 anos que trabalho aqui na diocese de Palmas. Graças a Deus, porém, deu muito certo o trabalho que aqui realizamos. Agora, vou encarar outra realidade. Aqui, comecei do zero. Não havia nada. Aí, em Belém, vou para uma igreja que tem uma história de quase 400 anos. Tem também o Círio de Nazaré e tudo mais. É uma realidade mais complexa. Vou para Belém com o coração muito aberto para conhecer e querer bem as pessoas, procurando fazer tudo o que estiver ao meu alcance.
P- A comunidade católica do Pará andava aflita coma demora na escolha do novo arcebispo de Belém. Agora, porém, que tudo foi definido, com a indicação de seu nome, qual a sensação de vir atuar num estado tão grande em tamanho quanto em problemas?
R- Veja bem, eu sou arcebispo de um estado da Amazônia Legal, que é o Tocantins. A região é a mesma do Pará, mas nós compartilhamos todos os desafios, seja aqui, em Palmas, como em Belém. Por isso, tenho a sensação de uma disponibilidade muito grande. Depois, preciso conhecer as pessoas e a cidade. Eu não conheço Belém. Já estive na cidade uma vez para pregar o retiro do clero.
P- Quando foi isso?
R- Ainda no tempo em que Dom Zico era arcebispo de Belém.
P- Dom Zico é um pastor extraordinário. Ele mora aqui.
R- Concordo, ele é mesmo um homem extraordinário. E vai continuar morando comigo, aí em Belém, quando eu assumir o arcebispado.
P- Dom Taveira, quando o senhor fala em conhecer as pessoas, isso tem uma relação direta com o trabalho que pretende realizar na arquidiocese?
R - Conhecer as pessoas é uma atitude de bom senso. Também é necessário identificar cada situação e cada realidade da diocese. Essas são coisas muito importantes para mim. Quando digo isso, me refiro às pastorais e às atividades da arquidiocese. Além disso, há o sentido de pregação do evangelho e a minha identificação com essa região. Os desafios dessa outra Amazônia, que eu ainda não conheço, alimentam minha disposição de encará-los com muito trabalho.
P- O senhor já tem um esboço do que pretende fazer quando assumir o arcebispado, no final de março de 2010?
R- Acabei de ser nomeado e não teria sentido eu lhe dizer que tenho um programa ou que já vou elaborar um programa de atividades. Pretendo ir a Belém antes da posse. No primeiro momento não quero falar de planos. Quero, isto sim, me abrir para o conhecimento das pessoas e da realidade do Pará.
P- Já tem data para essa vinda preliminar à cidade?
R- Não, eu ainda pretendo marcar isso com o Possidônio, que é o administrador diocesano. Nessa viagem, antes da posse, pretendo tomar conhecimento das coisas que dizem respeito à arquidiocese. A posse já foi marcada para o dia 25 de março. Vou chegar a Belém na véspera da Semana Santa.
P- Belém é a única cidade do país que, na sexta-feira santa, ainda celebra as três horas da agonia e todo aquele sofrimento de Cristo na crucificação. É na capela do Colégio Santo Antônio. Tem ainda a cerimônia do Lava-Pés, na véspera, quando o arcebispo beija os pés de doentes no hospital da Santa Casa de Misericórdia, repetindo o gesto de Cristo.
R- Eu não sabia disso, estou sabendo agora. É muito interessante. Cada diocese cultiva esses rituais, mas com estilos próprios. Mas em Belém, com toda a sua história, esses rituais têm toda uma força muito significativa.
P- A violência é a criminalidade, que hoje se espalham pelo Pará, mexem muito com o sentimento do povo católico daqui. Padres e agentes pastorais têm sido vítimas dessa violência. O que o senhor pensa disso?
R- A mesma situação ocorre também aqui na nossa região de Palmas. Infelizmente, é algo que se espalha por várias regiões do Brasil. Nós temos conhecimento dessas realidades e temos de enfrentá-las com seriedade e união entre os padres, bispos e pastorais da diocese. O trabalho da Regional Norte 2, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), é muito importante nesse aspecto.
P- Antes de atuar em Palmas, quais as outras dioceses em que o senhor trabalhou?
R- Sou bispo há 18 anos. Já fui bispo auxiliar em Brasília e há 14 anos sou arcebispo de Palmas. Fui o primeiro arcebispo daqui depois que a cidade foi construída. Comecei tudo aqui. Quando vim para Palmas só havia uma paróquia. Hoje, temos 36.
P- Em Belém, como o senhor mesmo falou, existe um trabalho consolidado.
R- É, mas eu sei que o que eu fizer não o farei sozinho. Terei sempre o apoio de outros padres e das pastorais. Tenho de chegar aí respeitando toda uma história que foi construída. O caminho para o trabalho será compartilhado entre todos.
P- Entre os temas polêmicos discutidos dentro e fora do catolicismo, a questão do aborto sempre ganha destaque. Essa bandeira contrária à legalização do aborto também será desfraldada em seu trabalho como arcebispo de Belém?
R- A minha posição é a posição de toda a Igreja Católica, que é contrária ao aborto. E não poderia ser diferente. Aquilo que é orientação do papa e da Igreja eu tenho de comungar com ela. O santo padre não nomearia para Belém uma pessoa que não comungasse com essa ideia.
P- Temos aqui em Belém uma CPI que envolve abusos sexuais contra crianças e adolescentes e que já apurou casos em que aparecem pessoas conceituadas na sociedade. O senhor tem acompanhado o noticiário sobre esses casos?
R- Não gostaria de tratar de assuntos aí do Pará dos quais ainda não tenho suficientes conhecimentos. O senhor há de convir que seria imprudente se eu emitisse uma opinião precipitada sobre esse assunto. A posição ética e moral da Igreja é contra essas práticas.
P- A devastação da Amazônia e o aquecimento global preocupam a sociedade e as religiões. Como o senhor encara esses temas?
R- A preocupação do papa e da Igreja com esses assuntos será claramente expressa no pronunciamento dele no dia 1º de janeiro, em favor da paz. A mensagem do papa sobre essa questão ambiental é muito forte. Ele diz: “se queres cultivar a paz, preserva a criação”. A minha posição é a mesma da CNBB e de todos os bispos, de cerrar fileiras com clareza em defesa do meio ambiente.
P- Os carismáticos da Igreja Católica no Pará pedem uma palavra sua sobre o trabalho que realizam.
R- Quero saudá-los com muito carinho, porque em nome da CNBB sou bispo assistente da renovação carismática católica do Brasil. Quero chegar perto dessas pessoais aí em Belém e valorizá-las cada vez mais. - Para concluir, qual a mensagem para os mais de 6 milhões de católicos do Pará?
P- Minha palavra é de ânimo e de desejo de muita comunhão. Temos de continuar trabalhando juntos para anunciar a palavra de Deus e também cuidar do povo de Deus, principalmente daqueles que mais sofrem.
R - Desejo logo conhecer a todos. Que Deus abençoe todas as pessoas que lerem esta entrevista e também aquelas que a divulgarem. (Diário do Pará)
Em entrevista exclusiva ao Diário, por telefone, dom Alberto, ainda arcebispo de Palmas (TO), promete realizar tudo o que estiver ao seu alcance para honrar “uma história de quase 400 anos da Igreja Católica no Pará”. Ele só esteve em Belém uma vez, quando dom Vicente Zico era o arcebispo. Veio pregar o retiro do clero.
Pretende fazer uma viagem a Belém antes da posse, mas a data ainda não foi definida.
Dom Alberto fala na entrevista que pretende primeiro conhecer os padres, bispos e as pastorais da arquidiocese, para só depois elaborar suas metas de trabalho. Embora o Tocantins faça parte da Amazônia Legal, ele entende que a realidade do Pará é “complexa e diferente”, com seus desafios que pretende encarar. Ele também aborda temas como violência, criminalidade, aborto, pedofilia e meio ambiente. Por fim, manda sua mensagem para todos os católicos paraenses.
P: Como o senhor recebeu a indicação do papa Bento 16 para comandar a Arquidiocese de Belém?
R-Recebi com muita satisfação. De um lado, é um apego muito grande, porque faz quase 14 anos que trabalho aqui na diocese de Palmas. Graças a Deus, porém, deu muito certo o trabalho que aqui realizamos. Agora, vou encarar outra realidade. Aqui, comecei do zero. Não havia nada. Aí, em Belém, vou para uma igreja que tem uma história de quase 400 anos. Tem também o Círio de Nazaré e tudo mais. É uma realidade mais complexa. Vou para Belém com o coração muito aberto para conhecer e querer bem as pessoas, procurando fazer tudo o que estiver ao meu alcance.
P- A comunidade católica do Pará andava aflita coma demora na escolha do novo arcebispo de Belém. Agora, porém, que tudo foi definido, com a indicação de seu nome, qual a sensação de vir atuar num estado tão grande em tamanho quanto em problemas?
R- Veja bem, eu sou arcebispo de um estado da Amazônia Legal, que é o Tocantins. A região é a mesma do Pará, mas nós compartilhamos todos os desafios, seja aqui, em Palmas, como em Belém. Por isso, tenho a sensação de uma disponibilidade muito grande. Depois, preciso conhecer as pessoas e a cidade. Eu não conheço Belém. Já estive na cidade uma vez para pregar o retiro do clero.
P- Quando foi isso?
R- Ainda no tempo em que Dom Zico era arcebispo de Belém.
P- Dom Zico é um pastor extraordinário. Ele mora aqui.
R- Concordo, ele é mesmo um homem extraordinário. E vai continuar morando comigo, aí em Belém, quando eu assumir o arcebispado.
P- Dom Taveira, quando o senhor fala em conhecer as pessoas, isso tem uma relação direta com o trabalho que pretende realizar na arquidiocese?
R - Conhecer as pessoas é uma atitude de bom senso. Também é necessário identificar cada situação e cada realidade da diocese. Essas são coisas muito importantes para mim. Quando digo isso, me refiro às pastorais e às atividades da arquidiocese. Além disso, há o sentido de pregação do evangelho e a minha identificação com essa região. Os desafios dessa outra Amazônia, que eu ainda não conheço, alimentam minha disposição de encará-los com muito trabalho.
P- O senhor já tem um esboço do que pretende fazer quando assumir o arcebispado, no final de março de 2010?
R- Acabei de ser nomeado e não teria sentido eu lhe dizer que tenho um programa ou que já vou elaborar um programa de atividades. Pretendo ir a Belém antes da posse. No primeiro momento não quero falar de planos. Quero, isto sim, me abrir para o conhecimento das pessoas e da realidade do Pará.
P- Já tem data para essa vinda preliminar à cidade?
R- Não, eu ainda pretendo marcar isso com o Possidônio, que é o administrador diocesano. Nessa viagem, antes da posse, pretendo tomar conhecimento das coisas que dizem respeito à arquidiocese. A posse já foi marcada para o dia 25 de março. Vou chegar a Belém na véspera da Semana Santa.
P- Belém é a única cidade do país que, na sexta-feira santa, ainda celebra as três horas da agonia e todo aquele sofrimento de Cristo na crucificação. É na capela do Colégio Santo Antônio. Tem ainda a cerimônia do Lava-Pés, na véspera, quando o arcebispo beija os pés de doentes no hospital da Santa Casa de Misericórdia, repetindo o gesto de Cristo.
R- Eu não sabia disso, estou sabendo agora. É muito interessante. Cada diocese cultiva esses rituais, mas com estilos próprios. Mas em Belém, com toda a sua história, esses rituais têm toda uma força muito significativa.
P- A violência é a criminalidade, que hoje se espalham pelo Pará, mexem muito com o sentimento do povo católico daqui. Padres e agentes pastorais têm sido vítimas dessa violência. O que o senhor pensa disso?
R- A mesma situação ocorre também aqui na nossa região de Palmas. Infelizmente, é algo que se espalha por várias regiões do Brasil. Nós temos conhecimento dessas realidades e temos de enfrentá-las com seriedade e união entre os padres, bispos e pastorais da diocese. O trabalho da Regional Norte 2, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), é muito importante nesse aspecto.
P- Antes de atuar em Palmas, quais as outras dioceses em que o senhor trabalhou?
R- Sou bispo há 18 anos. Já fui bispo auxiliar em Brasília e há 14 anos sou arcebispo de Palmas. Fui o primeiro arcebispo daqui depois que a cidade foi construída. Comecei tudo aqui. Quando vim para Palmas só havia uma paróquia. Hoje, temos 36.
P- Em Belém, como o senhor mesmo falou, existe um trabalho consolidado.
R- É, mas eu sei que o que eu fizer não o farei sozinho. Terei sempre o apoio de outros padres e das pastorais. Tenho de chegar aí respeitando toda uma história que foi construída. O caminho para o trabalho será compartilhado entre todos.
P- Entre os temas polêmicos discutidos dentro e fora do catolicismo, a questão do aborto sempre ganha destaque. Essa bandeira contrária à legalização do aborto também será desfraldada em seu trabalho como arcebispo de Belém?
R- A minha posição é a posição de toda a Igreja Católica, que é contrária ao aborto. E não poderia ser diferente. Aquilo que é orientação do papa e da Igreja eu tenho de comungar com ela. O santo padre não nomearia para Belém uma pessoa que não comungasse com essa ideia.
P- Temos aqui em Belém uma CPI que envolve abusos sexuais contra crianças e adolescentes e que já apurou casos em que aparecem pessoas conceituadas na sociedade. O senhor tem acompanhado o noticiário sobre esses casos?
R- Não gostaria de tratar de assuntos aí do Pará dos quais ainda não tenho suficientes conhecimentos. O senhor há de convir que seria imprudente se eu emitisse uma opinião precipitada sobre esse assunto. A posição ética e moral da Igreja é contra essas práticas.
P- A devastação da Amazônia e o aquecimento global preocupam a sociedade e as religiões. Como o senhor encara esses temas?
R- A preocupação do papa e da Igreja com esses assuntos será claramente expressa no pronunciamento dele no dia 1º de janeiro, em favor da paz. A mensagem do papa sobre essa questão ambiental é muito forte. Ele diz: “se queres cultivar a paz, preserva a criação”. A minha posição é a mesma da CNBB e de todos os bispos, de cerrar fileiras com clareza em defesa do meio ambiente.
P- Os carismáticos da Igreja Católica no Pará pedem uma palavra sua sobre o trabalho que realizam.
R- Quero saudá-los com muito carinho, porque em nome da CNBB sou bispo assistente da renovação carismática católica do Brasil. Quero chegar perto dessas pessoais aí em Belém e valorizá-las cada vez mais. - Para concluir, qual a mensagem para os mais de 6 milhões de católicos do Pará?
P- Minha palavra é de ânimo e de desejo de muita comunhão. Temos de continuar trabalhando juntos para anunciar a palavra de Deus e também cuidar do povo de Deus, principalmente daqueles que mais sofrem.
R - Desejo logo conhecer a todos. Que Deus abençoe todas as pessoas que lerem esta entrevista e também aquelas que a divulgarem. (Diário do Pará)
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